domingo, 1 de maio de 2011

kerouac + náusea + café

Esses dias tava revendo o que eu escrevia durante o meu trabalho ingrato de janeiro, em que eu ficava cuidando de uma exposição de fotos chatíssima no iguatemi, das 13h às 19h, segunda a sábado. Minhas únicas companhias eram um Moleskine pretinho pequeno (presente de uma pessoa muito querida), uns 3 livros e algumas centenas de músicas. Alguns fragmentos interessantes:

DIA 10 - 22.01.11
"Me sinto muito fora da realidade tão improdutiva. Não é minha vida, é a dos outros, que vêm passear no shopping e olham os quadros e têm interesses e opiniões a respeito deles e querem um cartão (da exposição, diga-se de passagem). Mas é melhor do que ficar em casa, triste. Será?
Me sinto tão triste.

Fui abençoada
no nariz
pela mosquinha;
Foi rápido
e sutil
mas agora
eu enxergo.

Milhões de partículas de beleza flutuaram em volta de mim agora e fizeram com que, por um segundo e um segundo apenas, eu tivesse vontade de sorrir.
Mas elas se mandaram.

Fico me perguntando por que tantas pessoas no shopping circulando lado a lado, tocando-se por acaso e chocando-se desinteressadas são incapazes de INTERAGIR.
Eu odeio esse lugar e o que ele significa. Essa impressão de cidade artificial, esse murmúrio incessante que ecoa e ensurdece; essa hipocrisia pairando bem acima das nossas cabeças; os gritos e o silêncio; os toques, a descontração aparente, tensão por trás de tudo. Todos cansados, com as pernas doendo.
Todos vestindo-se com esmero, intuito de impressionar mais e mais, estar à altura do brilho dourado dos corrimões antigos.
Essa luz que confunde, uma mistura de lâmpadas amarelas e brancas que cega e hipnotiza e a sensação final é essa: a hipnose do irreal que satisfaz qualquer um sedento por alguma coisa".

2 comentários:

  1. Nossa, captou com boniteza uma realidade sutil, quase invisível. Alma sensível e humana a tua.

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  2. adorei a mosca. keep on publishing, fê!

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