quarta-feira, 21 de julho de 2010

soneto de carnaval, v-d-m

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu sei tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

domingo, 18 de julho de 2010

sobre a teimosia da memória

Em tempos de efemeridade, figuras se apegando a nós com uma força imbatível e incontrolável.
Em tempos de tudo-muito-rápido, idéias demorando a se diluir.
Em tempos de espírito enciclopédico (hardman explica: a ânsia de saber, de ver, de conhecer tudo, não perder nada de vista), a vontade de entender o outro PROFUNDAMENTE, de adentrar todos os espacinhos da sua mente e do seu corpo: olhos nos olhos bem intensos um no outro, sem piedade nem constrangimento.
Batendo vontade de lembrar chico buarque: olhos nos olhos quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz. Como é que se deixa que determinadas imagens, pessoas, conversas, se apeguem de um jeito tão INSUPORTAVELMENTE forte à nossa rede de lembranças? São resistentes, essas memórias. Teimosas.
Não importando o quanto tentemos arrancá-las com as unhas, dentes, garras, elas sempre lá, teimando em segurar-se a qualquer canto desprevenido do nosso cérebro. Ficam à espreita, mesmo que imersas na poeira da nossa mente, na iminência de acharem qualquer momento INOPORTUNO para insurgirem e, daí, atacar.

Then it hit me: por quê? Por que ficam armazenadas na nossa kopf se são quase que indesejáveis? Fugindo de qualquer embasamento científico, confiando só nuns devaneios ensandecidos, penso que acabam ficando, ficando porque, por alguma razão, são assuntos inacabados, aguardando pacientemente para terem um fim. Enquanto não o tiverem, decidem, com um pragmatismo odioso, a continuar nos atazanando. Essa indefinição corrói a legitimidade da nossa noção sobre essas lembranças, sendo nossas lembranças idéias congeladas, imutáveis, impossibilitadas de serem reparadas e quase nunca condizendo com a realidade. Por isso sempre tendo um caráter extremista: ou sendo uma idealização, ou provocando um asco nauseante, nunca sendo verossímeis.

Eu bem leiga, mas bem curiosa, lendo O mal-estar da cultura, catei uma passagem talvez útil à discussão: Freud alega que o passado pode ficar conservado na vida psíquica, não precisando ser necessariamente destruído. Claro que aí ele se refere a um assunto far more complex, o distanciamento do eu inteiro do eu exterior ao passar do tempo. Claro que associar isso à memória é uma aproximação completamente vulgar. Mas também, o que é que EU sei de psicanálise?

Curiosas são as perguntas que ficam: como é que essas memórias, quando vêm à tona, representam uma influência tão INTENSA aos nossos pensamentos? Como é que têm essa capacidade indomável de embaralhar certezas, de fazer com que percamos a noção entre o ético, o justo, e o inadmissível? E por que é que confundem nossas sensações, atuando sobre sentimentos que dávamos por eternos e criando indefinições, dúvidas, tornando-os (e por que não?) passageiros? Incorporam ímpetos, criando impulsos irresistíveis e que, no entanto, desafiam verdades anteriores?
Bom, resta-me a dúvida, e a única certeza de que me assombram ainda mais rostos e lembranças do que eu gostaria.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

presenting: errors

Estava eu enrolada com todos os meus rolos, bem cilíndricos e bem permanentes, quando eu paro pra raciocinar, POR QUE continuo enrolada nos meus erros? Por que é que não consigo me desnrolar deles? Será que eu ao menos tento?

QUE, teoricamente, se alguma coisa nos faz mal, deixa nervosa, desnorteada, assim, com a cabeça girando à deriva num sem-número de pensamentos e possibilidades, seria RACIONAL tão racional que combatêssemos a fonte do CAOS. Mas por que é que às vezes fazemos o oposto?

(parafraseando o senhor Amarante) Porque nem sempre. Já é pra lá de sabido que somos completamente IMPULSIVOS: nossos ímpetos, por mais controlados que possam ser, existem de fato e sempre fazem uma pressão monstruosa sobre nossas decisões. De modo que, mesmo quando é certamente mais sensato agir RACIONALMENTE (se errar me machuca, e eu não quero me machucar, não vou mais errar), às vezes nos deixamos levar por nossos impulsos. Tá, grande coisa. E daí?

E daí que errar várias e várias vezes não é sinal de burrice coisíssima nenhuma (claro, falamos de interações interpessoais, não de exercícios de matemática).
Isso só mostra que o ÊXTASE do impulso supera a conseqüência MALIGNA do erro.

Não sesquecendo que a conseqüência maligna nunca vai deixar dexistir BLÉ

tchüs,

quarta-feira, 7 de julho de 2010

vontade dum café

Dalgum jeito poucas situações batem um café.
Preto, cheiroso e fumegante.
Ele é anunciado a distância, custa disfarçar a fumacinha;

claro, certas companhias envaidecem o café, e fazem dele a mais EMINENTE das bebidas (será mesmo? für mich, ja).
não se faz necessidade aqui de citá-las uma por uma, mas três têm presença marcada: frio, cigarro e jazz. embora da OBVIEDADE há muito tenha sido feitum clichê, eles REALMENTE merecem destaque.

a memória aqui catou uma situação: eu e minha caríssima irmã num café da manhã num lugar nevado, o cheiro dum cigarro-recém-apagado e miles davis embalando todo mundo com 'so what'. pena que era de manhã, though.

buenas, tudo isso pra confessar que, quem quer que seja, é bem possível que eu SEMPRE vá acabar propondo que se tome um kaffee mit mir.