segunda-feira, 8 de abril de 2013

O mais doce dos ruídos



Assim como as imagens de um filme fotográfico só aparecem após sua revelação, nossa vida é revelada através dos sentidos, dos cristais de prata da luz, das ondas sonoras, do tato, dos aromas, dos gostos. Quando estamos apaixonados, estes cristais sofrem uma metamorfose, assim como a maneira como sentimos a vida. Umberto Eco uma vez disse que a arte emite sinais, que captamos, mas não sem certas interferências externas, os “ruídos”, distâncias culturais e temporais entre nós e o objeto artístico que perturbariam os sinais por ele enviados, determinando nossa concepção de arte. A paixão, ela mesma, é um tipo de ruído.
            A paixão desorienta e confunde nossos sentidos, mas, ao mesmo tempo, torna-os mais seletivos: se nossa visão parece mais turva, é porque passamos a escolher um foco, mesmo que ele esteja preso em nossos devaneios; nossa audição fica mais desatenta: prestamos mais a atenção no ritmo acelerado de nosso coração; nosso paladar passa a priorizar os sabores mais afrodisíacos, mais doces; nosso olfato rebela-se, ignora o malcheiroso e celebra os perfumes; e, por fim, nosso tato fica ansioso, procura nervoso pela pele daquela pessoa que nos encanta.
            Enfim, a paixão passa a estender-se a todos os aspectos de nossa vida. Suspiramos quando nasce o sol, saltamos uma poça d’água por uma simples e repentina vontade serelepe de fazê-lo, sorrimos à toa, não por ingenuidade, mas porque nossos lábios involuntariamente se contraem. Se nos dizemos apaixonados por alguém, não é porque ele é o centro de nossas vidas; é porque foi o responsável por nos sentirmos mais vivos.