terça-feira, 17 de agosto de 2010

es könnte auch anders sein

Vez ou outra, quando se está perdido em divagações profundas e sinceras, dá-se de cara com alguma verdade reveladora. Ela não simplesmente brota da nossa cabeça, na maioria das vezes; mas existem mecanismos que nos ajudam a encontrá-la. A disposição das árvores vista de um ângulo diferente no final da tarde, uma melodia diferente de qualquer coisa antes vista, ou simplesmente passagens de um livro velho e amarelado, que aparentava (só aparentava) já ter visto passarem seus dias de glória há muito. É o caso de “A Insustentável leveza do ser”, que leio agora, e que me fez arregalar os olhos de uma maneira LINDA e INÉDITA. Sinto-me no dever de parafrasear alguns trechos INTERESSANTÍSSIMOS, que merecem ser descobertos por qualquer um disposto a sentir um filete de sangue correr quente e vibrar nervoso e acelerar o compasso do coração melodia tão bonita que o nosso corpo rotineiramente produz. Com vocês, Milan Kundera:

“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É isso que faz com que a vida pareça sempre um esboço. No entanto, mesmo “esboço” não é a palavra certa, porque um esboço é sempre um projeto de alguma coisa, ao passo que o esboço que é a nossa vida não é o esboço de nada. (...) Einmal ist keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não pode viver senão uma vida é como não viver nunca.”

“(...) chegou à conclusão de que a história de amor de sua vida não estava colocada sobre ‘Es muss sein! (precisa ser assim)’, mas antes sobre “Es könnte auch anders sein”: isso poderia muito bem ter acontecido de outra maneira...”

“Depois que o homem aprendeu a dar nome a todas as partes de seu corpo, esse corpo o inquieta menos. Atualmente, cada um de nós sabe que a alma nada mais é que a atividade da matéria cinzenta do cérebro. A dualidade da alma e do corpo estava dissimulada por termos científicos; hoje, isso é um preconceito fora de moda que só nos faz rir.
Mas basta amar loucamente e ouvir o ruído dos intestinos para que a unidade da alma e do corpo, ilusão lírica da era científica, imediatamente se desfaça.”

“Ela tentava ver-se através do próprio corpo. Por isso, passava longos momentos em frente ao espelho. (...) Não era a vaidade que a atraía para o espelho, mas o espanto de descobrir-se. Esquecia que tinha diante de si o painel dos mecanismos psíquicos. Acreditava ver sua alma se revelando sob os traços do seu rosto.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário