domingo, 18 de julho de 2010

sobre a teimosia da memória

Em tempos de efemeridade, figuras se apegando a nós com uma força imbatível e incontrolável.
Em tempos de tudo-muito-rápido, idéias demorando a se diluir.
Em tempos de espírito enciclopédico (hardman explica: a ânsia de saber, de ver, de conhecer tudo, não perder nada de vista), a vontade de entender o outro PROFUNDAMENTE, de adentrar todos os espacinhos da sua mente e do seu corpo: olhos nos olhos bem intensos um no outro, sem piedade nem constrangimento.
Batendo vontade de lembrar chico buarque: olhos nos olhos quero ver o que você diz, quero ver como suporta me ver tão feliz. Como é que se deixa que determinadas imagens, pessoas, conversas, se apeguem de um jeito tão INSUPORTAVELMENTE forte à nossa rede de lembranças? São resistentes, essas memórias. Teimosas.
Não importando o quanto tentemos arrancá-las com as unhas, dentes, garras, elas sempre lá, teimando em segurar-se a qualquer canto desprevenido do nosso cérebro. Ficam à espreita, mesmo que imersas na poeira da nossa mente, na iminência de acharem qualquer momento INOPORTUNO para insurgirem e, daí, atacar.

Then it hit me: por quê? Por que ficam armazenadas na nossa kopf se são quase que indesejáveis? Fugindo de qualquer embasamento científico, confiando só nuns devaneios ensandecidos, penso que acabam ficando, ficando porque, por alguma razão, são assuntos inacabados, aguardando pacientemente para terem um fim. Enquanto não o tiverem, decidem, com um pragmatismo odioso, a continuar nos atazanando. Essa indefinição corrói a legitimidade da nossa noção sobre essas lembranças, sendo nossas lembranças idéias congeladas, imutáveis, impossibilitadas de serem reparadas e quase nunca condizendo com a realidade. Por isso sempre tendo um caráter extremista: ou sendo uma idealização, ou provocando um asco nauseante, nunca sendo verossímeis.

Eu bem leiga, mas bem curiosa, lendo O mal-estar da cultura, catei uma passagem talvez útil à discussão: Freud alega que o passado pode ficar conservado na vida psíquica, não precisando ser necessariamente destruído. Claro que aí ele se refere a um assunto far more complex, o distanciamento do eu inteiro do eu exterior ao passar do tempo. Claro que associar isso à memória é uma aproximação completamente vulgar. Mas também, o que é que EU sei de psicanálise?

Curiosas são as perguntas que ficam: como é que essas memórias, quando vêm à tona, representam uma influência tão INTENSA aos nossos pensamentos? Como é que têm essa capacidade indomável de embaralhar certezas, de fazer com que percamos a noção entre o ético, o justo, e o inadmissível? E por que é que confundem nossas sensações, atuando sobre sentimentos que dávamos por eternos e criando indefinições, dúvidas, tornando-os (e por que não?) passageiros? Incorporam ímpetos, criando impulsos irresistíveis e que, no entanto, desafiam verdades anteriores?
Bom, resta-me a dúvida, e a única certeza de que me assombram ainda mais rostos e lembranças do que eu gostaria.

Um comentário:

  1. Que viva la ciencia,
    Que viva la poesia!
    Que viva siento mi lengua
    Cuando tu lengua está sobre la lengua mía!

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